sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dona Maria e Filho


Dona Maria conheceu Marido que morava em Paraná, sul do Brasil. Foi para lá. No entanto tendo passado um tempo o casamento findou. Ficou Filho pequeno, tinha um ano e pouco, voltou para povoado baiano com Mãe. Disse a Mãe à juíza: eu que vou criar, posso, Marido não me encontrou trabalhando direito? Vou seguir trabalhando, ora essas. Juíza liberou a ida, rumaram para Alegre.
Quando Menino fez uns 8 anos disse que queria ir com Pai e com Vó. Mãe sentiu dor no peito, mas deixou. Não podia segurar querer de Filho. Falou com Pai, falou com Vó, embarcou Menino. Ele disse que ia voltar logo. E foi.
Acontece que Menino ficou em Paraná mais e mais tempo. Escrevia toda semana para Mãe, mas não recebia resposta. Chamou ela de ingrata – que mãe é essa que abandona, que não responde carta?
Do outro lado Mãe aflita a falar por telefone com Vó distante. Dizia a mais velha: teu filho não volta mais não, não quer, gostou daqui. E coração de Mãe entendia o querer de Menino: deve de tá melhor lá mesmo, deixa ele lá, se tá feliz.

Perderam contato. Mãe chorava de saudade quase toda semana, sonhava com Menino chegando.

Um dia, tendo ido visitar Filha que havia ido morar em São Paulo, falou da saudade. Filha incentivou que procurasse; Amiga de Filha fez busca na internet. Tendo registrado uma linha telefônica no nome dele encontrou: Elvis Franciê. É meu filho! Mãe tomou coragem, ligou. Oi, quem tá falando é Maria.
Quem atendeu foi Nora – Mãe que nem sabia que ele era casado...! – e falou vem pra cá, guardo segredo pra preservar surpresa em Filho. Lembra onde é? O mesmo lugar? É. Lembro.
No outro lado do país, no mesmo dia da ligação, bem mais tarde, Marido/Filho chega em casa. Ao abraçar Esposa/Nora confessa: senti saudade de Mãe hoje, parece que via ela em cada canto. Em cada rosto maduro, fiquei imaginando como Mãe estaria mais velha. Esposa se emocionou e não resistiu: falei com Mãe hoje, vem aí. Ele chorou, ela chorou, juntos aguardaram.
Mãe sozinha no ônibus para Paraná, sentiram seu sotaque carregado. Me desculpe, senhora, mas vem de onde? Venho de Alegre, Bahia, vou encontrar meu filho, faz 18 anos que não vejo ele. O ônibus todo ouviu história, o ônibus todo tomou decisão: vamos juntos ver o reencontro.
Chão e chão, ônibus em estrada longa. Até que chegou. Desceu Mãe com coração palpitando, parecia pipoca em peito quente. Já a aguardavam, criança gritou Vó e correu para o colo dela. Eu sou vó?!! Veio família toda, era Mãe, Filho, Nora, Neto, Motorista, ônibus todo chorando junto.

Mais tarde descobriram que Mãe não recebia as cartas porque Vó do Paraná escondia em vaso. Não queria que Menino voltasse, e era enorme o vaso cheio de cartas com endereço certinho, mas sem entrega permitida. Encontraram vaso preparando mudança, tendo falecido a Vó, anos e anos depois.
Mais tarde descobriram que Irmã de Mãe morava na mesma rua de Menino, mas não sabia que menino era Menino de irmã, brincava com ele sem nunca supor que era parente próximo.
Mais tarde Mãe viu seu retrato desenhado por Filho quando chegou em cidade de Pai, retrato que ele guardou com carinho durante seus 18 anos de lonjura.

Esse ano Menino volta para visitar o povoado de Alegre. Tomar banho de rio que não esquece e conhecer irmãs que dele só conhecem nome e lágrimas saudosas de Mãe. Esse ano ele vem, agora a gente não se perde mais não, Moça. Vem aí meu Menino!

Nenhum comentário: