Dona Maria conheceu Marido que
morava em Paraná, sul do Brasil. Foi para lá. No entanto tendo passado um tempo
o casamento findou. Ficou Filho pequeno, tinha um ano e pouco, voltou para
povoado baiano com Mãe. Disse a Mãe à juíza: eu que vou criar, posso, Marido não
me encontrou trabalhando direito? Vou seguir trabalhando, ora essas. Juíza
liberou a ida, rumaram para Alegre.
Quando Menino fez uns 8 anos
disse que queria ir com Pai e com Vó. Mãe sentiu dor no peito, mas deixou. Não
podia segurar querer de Filho. Falou com Pai, falou com Vó, embarcou Menino.
Ele disse que ia voltar logo. E foi.
Acontece que Menino ficou em
Paraná mais e mais tempo. Escrevia toda semana para Mãe, mas não recebia
resposta. Chamou ela de ingrata – que mãe é essa que abandona, que não responde
carta?
Do outro lado Mãe aflita a falar
por telefone com Vó distante. Dizia a mais velha: teu filho não volta mais não,
não quer, gostou daqui. E coração de Mãe entendia o querer de Menino: deve de
tá melhor lá mesmo, deixa ele lá, se tá feliz.
Perderam contato. Mãe chorava de
saudade quase toda semana, sonhava com Menino chegando.
Um dia, tendo ido visitar Filha
que havia ido morar em São
Paulo, falou da saudade. Filha incentivou que procurasse;
Amiga de Filha fez busca na internet. Tendo registrado uma linha telefônica no
nome dele encontrou: Elvis Franciê. É meu filho! Mãe tomou coragem, ligou. Oi,
quem tá falando é Maria.
Quem atendeu foi Nora – Mãe que
nem sabia que ele era casado...! – e falou vem pra cá, guardo segredo pra
preservar surpresa em
Filho. Lembra onde é? O mesmo lugar? É. Lembro.
No outro lado do país, no mesmo
dia da ligação, bem mais tarde, Marido/Filho chega em casa. Ao abraçar
Esposa/Nora confessa: senti saudade de Mãe hoje, parece que via ela em cada
canto. Em cada rosto maduro, fiquei imaginando como Mãe estaria mais velha.
Esposa se emocionou e não resistiu: falei com Mãe hoje, vem aí. Ele chorou, ela
chorou, juntos aguardaram.
Mãe sozinha no ônibus para
Paraná, sentiram seu sotaque carregado. Me desculpe, senhora, mas vem de onde?
Venho de Alegre, Bahia, vou encontrar meu filho, faz 18 anos que não vejo ele.
O ônibus todo ouviu história, o ônibus todo tomou decisão: vamos juntos ver o
reencontro.
Chão e chão, ônibus em estrada
longa. Até que chegou. Desceu Mãe com coração palpitando, parecia pipoca em
peito quente. Já a aguardavam, criança gritou Vó e correu para o colo dela. Eu
sou vó?!! Veio família toda, era Mãe, Filho, Nora, Neto, Motorista, ônibus todo
chorando junto.
Mais tarde descobriram que Mãe
não recebia as cartas porque Vó do Paraná escondia em vaso. Não queria que
Menino voltasse, e era enorme o vaso cheio de cartas com endereço certinho, mas
sem entrega permitida. Encontraram vaso preparando mudança, tendo falecido a Vó,
anos e anos depois.
Mais tarde descobriram que Irmã
de Mãe morava na mesma rua de Menino, mas não sabia que menino era Menino de
irmã, brincava com ele sem nunca supor que era parente próximo.
Mais tarde Mãe viu seu retrato
desenhado por Filho quando chegou em cidade de Pai, retrato que ele guardou com
carinho durante seus 18 anos de lonjura.
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