sexta-feira, 13 de julho de 2012

PRIMEIRA CHEGANÇA EM CORTEJO


Povoado Olhos d’Água, Ibipeba, 11 de julho de 2012

Chegamos já noite, não conseguimos chegar antes. Eram 18 horas e algo, sol havia se recolhido, na procura de povoados próximos encontramos dois. Jogamos moeda: este ou aquele? Deu coroa, este.
Paramos pouco depois da estrada, nos vestimos, em mãos o tambor o pífano o triângulo o acordeon.
Mas a noite traz um mistério, transpira medo, e correram de nós, a fugir.  Bem verdade que em gargalhadas, mas ainda assim aparentavam ter medo nos olhos. Receio das estrangeiras, de chegarmos em um carro, das moças com roupas estranhas, tatuagem, olha como aquela é alta sobre as pernas de madeira. Pouco a pouco a fuga foi aliviando, das portas apareciam mais e mais crianças a nos seguir em cortejo como em procissão faceira.
Assim tocamos e cantamos por cerca de 40 minutos logo abaixo das estrelas que clareavam a noite. (Eram tantas as estrelas, como açúcar caído em mesa escura por descuido no adoçar de café.) Ao final da andança crianças segurando as mãos de Alice para ela não cair do alto das pernas longas, ela tendo sentado em frente à casa de Dona Maura, nós sem saber como finalizar aquela faceirice toda... até que tiramos os narizes e nos apresentamos: Laura, Alice, Genifer. Explicamos o porquê da vinda, que ficamos se quiserem acolher, temos mais a apresentar, mas só se quiserem. E então o silêncio fez-se presente. No entanto era só das crianças o querer que ficássemos, e assim não poderia ser. Precisaria mãe querer abrigar, e não queriam. Fizeram-se mudas as vozes. Olhamos nos nossos olhos, as três, e permanecendo o silêncio resolvemos partir.   
Já embarcando no carro, porém, veio uma voz mansa: é verdade que precisam de abrigo para ficar? É, verdade lá é. Se não fosse minha casa tão simples, tão humilde, nem banheiro tem. Não seja por isso, basta o querer, ficamos em qualquer canto - dissemos. Só tem de ser de coração, querer sincero. Pois é, então eu acolho vocês! Meninada vibra, aplaude, faz refrão com nome de Elisangela acolhedora. Olho para os olhos de Laura em meio à escuridão e percebo que temos as duas águas a saltar dos olhos. Então ficamos.

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