Povoado Olhos d’Água, Ibipeba, 11
de julho de 2012
Chegamos já noite, não
conseguimos chegar antes. Eram 18 horas e algo, sol havia se recolhido, na
procura de povoados próximos encontramos dois. Jogamos moeda: este ou aquele?
Deu coroa, este.
Paramos pouco depois da estrada,
nos vestimos, em mãos o tambor o pífano o triângulo o acordeon.
Mas a noite traz um mistério,
transpira medo, e correram de nós, a fugir. Bem verdade que em gargalhadas, mas ainda
assim aparentavam ter medo nos olhos. Receio das estrangeiras, de chegarmos em
um carro, das moças com roupas estranhas, tatuagem, olha como aquela é alta
sobre as pernas de madeira. Pouco a pouco a fuga foi aliviando, das portas
apareciam mais e mais crianças a nos seguir em cortejo como em procissão
faceira.
Assim tocamos e cantamos por
cerca de 40 minutos logo abaixo das estrelas que clareavam a noite. (Eram
tantas as estrelas, como açúcar caído em mesa escura por descuido no adoçar de
café.) Ao final da andança crianças segurando as mãos de Alice para ela não
cair do alto das pernas longas, ela tendo sentado em frente à casa de Dona
Maura, nós sem saber como finalizar aquela faceirice toda... até que tiramos os
narizes e nos apresentamos: Laura, Alice, Genifer. Explicamos o porquê da vinda,
que ficamos se quiserem acolher, temos mais a apresentar, mas só se quiserem. E
então o silêncio fez-se presente. No entanto era só das crianças o querer que
ficássemos, e assim não poderia ser. Precisaria mãe querer abrigar, e não
queriam. Fizeram-se mudas as vozes. Olhamos nos nossos olhos, as três, e permanecendo
o silêncio resolvemos partir.
Já embarcando no carro, porém,
veio uma voz mansa: é verdade que precisam de abrigo para ficar? É, verdade lá é.
Se não fosse minha casa tão simples, tão humilde, nem banheiro tem. Não seja
por isso, basta o querer, ficamos em qualquer canto - dissemos. Só tem de ser
de coração, querer sincero. Pois é, então eu acolho vocês! Meninada vibra,
aplaude, faz refrão com nome de Elisangela acolhedora. Olho para os olhos de Laura
em meio à escuridão e percebo que temos as duas águas a saltar dos olhos. Então
ficamos.
Um comentário:
que coisa linda!!!
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