sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ruma ovo nele, Palitolina!



Deu problema no som, no encontrar tomada, no onde fazer. Atrasou a apresentação. Por conta dos rumores na cidade de que somos ladras de criancinhas, poucas crianças apareceram. A maioria ficou presa nos colos das mães em suas casas, que ali era seguro, lá com as moças, não.
Iniciei o espetáculo de uma gringa que é errante. Os risos, os silêncios, o intervir de motos barulhentas e, pouco a pouco, o homem do bar a interferir. De início era engraçado, interagi com ele, mas fez-se valente com roda de amigos e cerveja: passou a dizer asneiras. Passou a ser mal educado, machista, e já silenciava mais a platéia que olhava para ele com suas testas franzidas de desaprovação.
Encaminhava-se para o final da apresentação e esta situação foi se potencializando – eu já havia ido lá, conversado, gritado, nada calava: seguia com seu comportamento rude a falar desaforos. Até que ouço uma voz de Laura, uma luz: “ovo!”. Dei um sorriso. Sim, sobrara um ovo. Peguei. Em segundos o código fora dado, sem nenhuma palavra minha a platéia de miúdos e graúdos virou coro: “ruma ovo nele, Palitolina!!”
Lá fui eu. Ele tendo visto que eu vinha foi para dentro do bar, eram só homens lá a jogar sinuca e a beber. Não entendiam o que estava havendo, só riam levemente de minha presença e seguiam com suas tacadas. Fui com o ovo para cima do homem, que buscava se desvencilhar de mim em uma brincadeira séria de segurar meus pulsos. Felizmente crianças chegaram na porta e ele vendo tal público teve certo receio em seguir com sua seriedade – que estava me assustando, devo admitir. Em um segundo tive vontade de não “rumar o ovo”, medo do que o homem pudesse fazer; no segundo seguinte ouvi a torcida, e no terceiro senti que o querer ia além de mim – que era quase uma necessidade daquelas pessoas e seu desprezo coletivo àquele homem e seus comportamentos. A torcida seguia forte fora do bar, quebrei o ovo com toda a força na mão e joguei para cima dele.
Não quis pensar se era certo ou não, para mim fui só fluxo do povoado, sobretudo das mulheres e crianças – se o querer não fosse tanto daquelas pessoas acho que não iria até o fim com esta “brincadeira”. Mas escorreu em sua camisa gotas amareladas, e o assunto a seguir foi só esse: Palitolina rumou um ovo no homem desaforado!

2 comentários:

Claudio Mendes disse...

Vida de artista, vida de mambembe, vida de palhaço. Que coisa espantosa. Que Brasil plural.
beijos.

Aline Amado disse...

e viva a voz da sábia criançada!