Deu problema no som, no encontrar
tomada, no onde fazer. Atrasou a apresentação. Por conta dos rumores na cidade
de que somos ladras de criancinhas, poucas crianças apareceram. A maioria ficou
presa nos colos das mães em suas casas, que ali era seguro, lá com as moças,
não.
Iniciei o espetáculo de uma
gringa que é errante. Os risos, os silêncios, o intervir de motos barulhentas
e, pouco a pouco, o homem do bar a interferir. De início era engraçado,
interagi com ele, mas fez-se valente com roda de amigos e cerveja: passou a
dizer asneiras. Passou a ser mal educado, machista, e já silenciava mais a
platéia que olhava para ele com suas testas franzidas de desaprovação.
Encaminhava-se para o final da
apresentação e esta situação foi se potencializando – eu já havia ido lá,
conversado, gritado, nada calava: seguia com seu comportamento rude a falar
desaforos. Até que ouço uma voz de Laura, uma luz: “ovo!”. Dei um sorriso. Sim,
sobrara um ovo. Peguei. Em segundos o código fora dado, sem nenhuma palavra
minha a platéia de miúdos e graúdos virou coro: “ruma ovo nele, Palitolina!!”
Lá fui eu. Ele tendo visto que eu
vinha foi para dentro do bar, eram só homens lá a jogar sinuca e a beber. Não
entendiam o que estava havendo, só riam levemente de minha presença e seguiam
com suas tacadas. Fui com o ovo para cima do homem, que buscava se desvencilhar
de mim em uma brincadeira séria de segurar meus pulsos. Felizmente crianças
chegaram na porta e ele vendo tal público teve certo receio em seguir com sua
seriedade – que estava me assustando, devo admitir. Em um segundo tive vontade
de não “rumar o ovo”, medo do que o homem pudesse fazer; no segundo seguinte
ouvi a torcida, e no terceiro senti que o querer ia além de mim – que era quase
uma necessidade daquelas pessoas e seu desprezo coletivo àquele homem e seus
comportamentos. A torcida seguia forte fora do bar, quebrei o ovo com toda a
força na mão e joguei para cima dele.
Não quis pensar se era certo ou
não, para mim fui só fluxo do povoado, sobretudo das mulheres e crianças – se o
querer não fosse tanto daquelas pessoas acho que não iria até o fim com esta
“brincadeira”. Mas escorreu em sua camisa gotas amareladas, e o assunto a
seguir foi só esse: Palitolina rumou um ovo no homem desaforado!
2 comentários:
Vida de artista, vida de mambembe, vida de palhaço. Que coisa espantosa. Que Brasil plural.
beijos.
e viva a voz da sábia criançada!
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