Ocorreu de ser a primeira vez que encontramos um povoado sem
crianças. Aqui, agora, o mais novo deve ter a nossa idade: 23 a 27, não menos. Os
demais são idosos.
Não bastasse a alegria nossa em experimentar trocar em lugar
assim, hoje (dia 27.07) à noite Laurinha foi apresentar ‘Rugas’ na escola
(alfabetização para adultos) para todo o povoado – moradores de suas 12 casas,
aproximadamente. E ocorreu de uma outra energia se instaurar na apresentação.
Eu só fiz apreciar. Enquanto operava a luz com
mini-refletores e lanterna emprestada degustava aqueles olhares para Laura que,
como Zefa, lembrava e esquecia de seus causos. Vi o medo inicial pela faca de
cozinha usada em cena para cortar doce de leite, medo este vindo de tragédias
assistidas pela TV (foi-nos revelado ao final, das próprias vozes que temeram).
Vi o não saber deles se podiam ou não interagir – e o agir e falar bonito e
natural. Vi os corpos imóveis a apreciar, a confirmar mitos, a rir de uma velha
a dizer que veio a Santo Antônio cobrar o marido prometido, nunca encontrado.
Dona Ana a sorrir afirmava: “coloca o Santo de cabeça pra baixo até encontrar
um homi bom!”. Vi o levantar de um, o sair. Voltou em seguida, e logo entendi
que foi para estrada para fazer suas necessidades, que aperto de bexiga se tem
em todo lugar, voltou ligeiro e tornou a sentar atento. Vi a população inteira
a dizer ao final que nunca vira aquilo, que bonito, que bonito! - surgiram elogios de todos os lados. Uma
conversa longa se seguiu, calma e madura como a velhice.
Vi a emoção de Laura em frente a todos, a trocar histórias e
olhares. Chorei eu lá no fundo escondida por detrás do refletor e da lanterna. Sabemos que essas pessoas não precisam da
gente, que a gente sim precisa delas, suas histórias, seus sorrisos, o sentido
que dão à nossa arte. E ao final as pessoas retornando às suas casas de lanterna
na mão, iluminando o chão e o céu revestido de estrelas que não cintilam no
alto dos prédios das grandes cidades em que vivemos.
Esta
noite algo muito bonito aconteceu aqui, e fiquei comovida e grata por ter
presenciado tal lindeza!
Nenhum comentário:
Postar um comentário