domingo, 12 de agosto de 2012

‘Rugas’ no Povoado Santo Antônio, município de Ipupiara/BA


Ocorreu de ser a primeira vez que encontramos um povoado sem crianças. Aqui, agora, o mais novo deve ter a nossa idade: 23 a 27, não menos. Os demais são idosos.
Não bastasse a alegria nossa em experimentar trocar em lugar assim, hoje (dia 27.07) à noite Laurinha foi apresentar ‘Rugas’ na escola (alfabetização para adultos) para todo o povoado – moradores de suas 12 casas, aproximadamente. E ocorreu de uma outra energia se instaurar na apresentação.

Eu só fiz apreciar. Enquanto operava a luz com mini-refletores e lanterna emprestada degustava aqueles olhares para Laura que, como Zefa, lembrava e esquecia de seus causos. Vi o medo inicial pela faca de cozinha usada em cena para cortar doce de leite, medo este vindo de tragédias assistidas pela TV (foi-nos revelado ao final, das próprias vozes que temeram). Vi o não saber deles se podiam ou não interagir – e o agir e falar bonito e natural. Vi os corpos imóveis a apreciar, a confirmar mitos, a rir de uma velha a dizer que veio a Santo Antônio cobrar o marido prometido, nunca encontrado. Dona Ana a sorrir afirmava: “coloca o Santo de cabeça pra baixo até encontrar um homi bom!”. Vi o levantar de um, o sair. Voltou em seguida, e logo entendi que foi para estrada para fazer suas necessidades, que aperto de bexiga se tem em todo lugar, voltou ligeiro e tornou a sentar atento. Vi a população inteira a dizer ao final que nunca vira aquilo, que bonito, que bonito!  - surgiram elogios de todos os lados. Uma conversa longa se seguiu, calma e madura como a velhice.

Vi a emoção de Laura em frente a todos, a trocar histórias e olhares. Chorei eu lá no fundo escondida por detrás do refletor e da lanterna.  Sabemos que essas pessoas não precisam da gente, que a gente sim precisa delas, suas histórias, seus sorrisos, o sentido que dão à nossa arte. E ao final as pessoas retornando às suas casas de lanterna na mão, iluminando o chão e o céu revestido de estrelas que não cintilam no alto dos prédios das grandes cidades em que vivemos. 


Esta noite algo muito bonito aconteceu aqui, e fiquei comovida e grata por ter presenciado tal lindeza!

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